Palavra de Deus, Vida e Missão nas Congregações Marianas

Palavra, Vida & Missão

cm-aparecida-2Partindo do capítulo II do Documento n° 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia, na qual estamos adaptando a realidade das Congregações Marianas, continuamos nosso trabalho como proposta de temas para discussão nas Congregações Marianas do Brasil.

A Comunidade encontra sua inspiração na Trindade Santa. E temos Jesus e os Apóstolos como modelos que nos ensinam a ser comunidade. A Congregação Mariana, confirma esta inspiração e propõe a seus membros, a Virgem Maria como modelo “cuja peregrinação na fé representa um ponto de referência constante para a Igreja e cada pessoa” (Redemptoris Mater, 6)

Para entendimento deste tríduo: Palavra, Vida e Missão em nossa caminhada de congregado mariano, retornemos a Comunidade de Israel, o Povo Eleito, convocado por Deus, onde foi firmada a Aliança, e que a partir da experiência familiar e comunitária foi constituído o Povo de Deus.

Primeiro com Abraão, como pai da grande nação; continuando com Isaac e Jacó, que foram os patriarcas das 12 Tribos de Israel; segue-se a figura de Moisés, libertador da escravidão e organizador do povo em pequenos grupos; Os Juízes, que irão ungir os primeiros reis; Profetas que anunciam a vontade de Deus e denunciam a infidelidade à Aliança; até que vivem o Exílio, remetendo à saudade da Terra Prometida e assim chegamos até o tempo de Jesus, onde a vida comunitária em Israel estava se desintegrando e Jesus participa ativamente na vida comunitária de Israel.

Em seu tempo Jesus apresenta um novo modo de ser Pastor, pois se apresentava como o Bom Pastor (cf. Jo 10,11), agindo, indo ao encontro das ovelhas, apresentando um caminho de vida nova; tinha especial cuidado com os doentes (cf. Mc 1,32) lançando sobre eles um novo olhar; Anunciava a Boa Nova do Reino para todos. Recebia como irmão(ã) aqueles que o sistema religioso e a sociedade desprezavam; Andava pelos povoados da Galiléia: Anunciando ao povo o Reino de  Deus (cf. Mc 1,14). Ele ensinava (cf. Mc 2,13). Usava parábolas para comparar as coisas de Deus com a simplicidade da vida. O povo via autoridade no que Ele falava (Mc 1,27) e sua própria vida era o testemunho.

Na perspectiva do Reino de Deus, a comunidade de Jesus tinha a certeza da presença do Seu Espírito em sua vida e a consciência clara de ser chamada para anunciar; Jesus entrava nas casas, levava a paz (cf. Mt 10,12-14). Alguns que o seguiam se entusiasmavam, e assim, a comunidade de Jesus dará início ao novo Povo de Deus e aprendem do Mestre, um novo jeito de viver: a) Na comunhão com Jesus (Mt 23,8-10); b) Na igualdade de dignidade (Gl 3,28); c) Na partilha dos bens (Mc 10,28-30); d) Na amizade (Jo 15,15); e) No serviço (Lc 22,25-26); f) No perdão (Mt 16,19); g) Na oração em comum (Lc 24,30; Mt 26,36-37) e h) Na alegria (Lc 10,20).

Jesus Cristo, também, apresenta quatro recomendações para a missão dos discípulos: a) Hospitalidade: Lc 10,5-6; b) Partilha: Lc 10,7; c) Comunhão de mesa: Lc 10,8 e d) Acolhida aos excluídos: Lc 10,9.

Essas recomendações sustentavam a vida dos missionários do Evangelho. Implicava sempre uma maneira de viver e conviver.

As primeiras comunidades cristãs: Vivem a experiência do encontro com Jesus (Lc 24,1-8); Os discípulos reconheceram que o crucificado havia ressuscitado (Jo 20,28); O Ressuscitado transmitiu aos apóstolos o Espírito Santo (At 2), concedeu diversos carismas. O mesmo Espírito guiou as decisões fundamentais: admitir os pagãos (At 8,29-39); superar obstáculos da Lei Mosaica (At 5,28); fazer missão no mundo pagão (cf At 13,2-3).

A partir da criação de comunidades pelos Apóstolos, estas se inspiram em quatro elementos da Igreja primitiva: a) Ensinamento dos apóstolos: 1Ts 2,13; b) Comunhão fraterna: At 2,44-45; c) A fração do pão (Eucaristia): Jo 6,11 e d) Orações: At 6,4.

Essa experiência permitia que a própria existência da comunidade fosse essencialmente missionária (At 2,47), pois experimentam: a) Comunhão (Koinonia) – 1Cor 10,14-17; b) A Partilha – 2Cor 9,7, onde o dom material é sinal visível da profunda relação das pessoas e da comunidade com a Trindade. Todos colocam o que possuem a serviço dos outros; c) A iniciação cristã – At 11,26; d) A missão – Hb 3,1, desta forma a comunidade cristã anuncia, acolhe e expande. (Mc 1,38). A Missão é sustentada por casais missionários – Rm 16,3-5; Rm 16,7; Fl 4,2. Nas primeiras comunidades o carisma das mulheres é fundamental para entender a obra missionária das origens. Diante do Evangelho todos têm a mesma dignidade: não há homem nem mulher (Gl 3,28); e) A esperança, pois a Ressurreição é o anúncio central da comunidade – Ap 21,2-5. O grupo se define como o verdadeiro Israel, a verdadeira Qahal que é a reunião do povo da Aliança. A comunidade faz a experiência de reunir os herdeiros do Reino. O cristão é caminheiro. Ele segue o caminho da salvação (cf. At 16,17).

A Igreja-comunidade, pois as comunidades do cristianismo palestinense eram profundamente itinerantes, a proposta de Paulo sugeria um cristianismo de forma sedentária, uma Igreja doméstica. Paulo faz da casa a estrutura fundamental das Igrejas por ele fundadas. Comunidade doméstica (Rm 16,5). Deste modo, a eleição não se reduz aos judeus, pois se estende a todos que creem no Cristo, mostrando que a comunidade primitiva foi marcada pela experiência da presença viva do Espírito Santo, pois o Reino de Deus se revela na palavra e nas obras.

Breve conclusão: A luz do belo histórico apresentado, entendemos que às Congregações Marianas fazem parte do Povo da Aliança, e cada congregado mariano encontra sua identidade pessoal como membro do Povo de Deus. Temos a nossa história, a partir daquele pequeno grupo no Colégio Romano, no ano de 1563, somando ao Povo de Deus (cf. 1Pd 2,10).

A Igreja, fiel a Cristo e guiada pelo Espírito Santo, não deveria ter medo de aceitar e de criar novos modelos, satisfazendo assim as exigências de sua vida e missão nos diversificados contextos em que atua. Da mesma forma, cada Congregação Mariana, deveria debater em suas reuniões esse novo olhar, mudando naquilo que possa ser mudado e mantendo aquilo que precisa ser mantido.

Como membros do Povo de Deus, e com a fiel proteção da Virgem Maria, possamos na alegria cantar, o refrão do Pe. Zezinho: “Também sou teu povo, Senhor / E estou nessa estrada / Somente a Tua graça me basta e mais nada”.

Eduardo L. Caridade

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