Origem dos Exercícios Espirituais (EE)

Experiência de valor universal.

Em combate com soldados franceses, no cerco de Pamplona, Espanha, Inácio é ferido na perna por um obus (1521). Transportado para o castelo da família na vizinha Loyola, pede romances de cavalaria para ocupar-se durante o período de convalescença. Não há. Entretanto, são apresentados os livros: a Vita Christi, de Ludolfo, o cartuxo, e o Flos Sanctorum, ou Legenda Dourada, do dominicano Tiago de Voragine, que conta a vida dos santos.

Pouco a pouco essas leituras atuam sobre Inácio. Em quase trezentas páginas de anotações, transcreve passagens que o tocam, reza. Este homem de 30 anos, de cultura limitada (mal lê e escreve), sente-se dividido por dois sonhos: o serviço de uma grande dama sua conhecida, e a imitação dos santos cujas proezas ascéticas admira. Percebe que o primeiro impulso o deixa seco e decepcionado, enquanto segundo lhe proporciona satisfação e alegria.

Com isso inicia sua experiência de discernimento espiritual, que marcará sua vida e os EE, tudo centrando sobre os mistérios da vida de Cristo.

Após nove meses, ainda mancando, dirige-se em lombo de mula para o santuário beneditino de Montserrat. Ali, segundo os costumes da época, durante três dias faz uma confissão geral e uma “vigília d’armas tipicamente de cavalaria”. Pretende, como dirá mais tarde a um de seus companheiros romanos, Pe. Gonçalves Câmara: revestir as armas de Cristo. Parte a seguir para a vizinha Manresa onde permanece por um ano; reza intensamente, conhece terrível crise de escrúpulos, experimenta que Deus o ensina como “um professor ao aluno”. Recebe graças místicas: percepção da Trindade, consciência de como Deus teria criado o mundo, visão interior da presença real do Cristo na eucaristia, intuição frequente da humanidade de Cristo e, uma vez, de Maria.

Tudo isso se passa à margem de um riacho chamado Cardoner, o que dá origem à expressão “iluminação do Cardoner”. É durante sua estada em Manresa que Inácio concebe e redige na sua substância os Exercícios Espirituais. Só os concluirá, todavia, após lenta maturação na experiência, pois eles não são meros produtos da criação intelectual. Como testemunhará o secretário Polanco, “o que está contido no livro dos EE, Inácio se pôs inicialmente a fazê-lo pessoalmente e depois o pôs por escrito para o bem dos outros”.

Inácio persuadiu-se de que sua experiência tinha um valor universal, o que tornava legítimo propô-la a outros. E você já experimentou?

colaboração: Eduardo Lopes Caridade

Fonte: Filho, Pe. S.C.,SJ. Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola (um manual de estudos). Edições Loyola, São Paulo, 3ª Edição, 2014.