O frei congregado que foi para o front na Segunda Guerra
Amara sem interesse,
Frei Orlando soube rir.
Embora muito sofresse,
aos soldados, fez sorrir. (1)
Frei Orlando tem o eterno agradecimento e admiração do Brasil por ter ingressado voluntariamente no Destacamento da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Lutou com a cruz e com a espada. Levou a Fé, a Caridade e o conforto espiritual aos nossos “pracinhas” e também aos italianos amigos da democracia. Honrou o hábito dos franciscanos e a farda do Exército Brasileiro. Foi mais um das centenas de Congregados marianos que deram suas vidas pela Pátria e pela liberdade.
PRIMEIROS ANOS
Frei Orlando é natural de Morada Nova, no coração de Minas Gerais, à época apenas um pequeno povoado à margem direita do rio São Francisco. Era 13 de fevereiro de 1913 quando nasceu mais um filho do negociante e Juiz de Paz Itagyba Alvares da Silva e de D. Jovita Aurélia da Silva.
No dia 18 de março, Antônio Alvares da Silva foi batizado pelo padre João Bernardino Barone na Igreja de Nossa Senhora de Loreto. Em homenagem ao avô paterno, recebeu seu nome. Era o caçula de oito irmãos.
Aos três anos de idade ficou órfão de mãe e pai. Passou a ser criado e educado por seus vizinhos Sebastião de Almeida Pinho (um farmacêutico) e Dona Emirena Teixeira Pinho (a “Dona Ninita”) velhos amigos de seus pais.
Tinha espírito brincalhão, afeito a piadas e mesmo gostava de fazer os outros rirem desde muito criança. Um temperamento herdado do pai que foi sua marca pessoal.
O “pequeno Alvares” era muito querido por seus pais adotivos. Laços de um profundo e puro afeto os ligava, o tratando como tratavam seus filhos legítimos, os quais também souberam acolher muito bem o inesperado “irmãozinho” – um peralta alegre. Recebeu da nova família formação moral, sentimento de fé, piedade e obediência às leis e aos mais velhos. Tinha horror à mentira e ao desânimo, tendo, inclusive, mais tarde, adotado o lema “gente desanimada é gente vencida”.
Em 1919, fez a Primeira Comunhão junto com a sua prima Agda na mesma igreja em que foi batizado. Aos sete anos, foi matriculado no Grupo Escolar Professor Rafael Barroso – hoje Escola Estadual da cidade de Abaeté – a 87 km ao sul de Morada Nova. No catecismo revelou-se nitidamente o pendor para a vida clerical, o apreço pelas coisas da Igreja e a compaixão pelos humildes.
VOCAÇÃO FRANCISCANA
“Eu nunca tinha visto um frade: chegaram então, em minha terra natal, três franciscanos de hábito marrom, com um capuz que achei muito engraçado, uma corda amarrada à cintura e sandálias nos pés.” Frei Orlando (2)
Em 1922, tornou-se coroinha. Mas sua vocação sacerdotal surgiu apenas aos dez anos de idade quando conheceu três padres franciscanos holandeses, quando foi convidado para visitar o Seminário em Divinópolis.
Na manhã do dia seguinte, pediu à professora D. Maria Mourão para sair mais cedo da aula para pegar os cavalos, pois queria continuar os estudos em Divinópolis (a 172 km de Abaeté) para ser padre. Ela não acreditou. Decorridos treze anos, já como padre, voltou, procurou a professora e disse: “Peguei ou não os cavalos para ser padre?”
SEMINARISTA
No Seminário, por seu comportamento irrequieto e dedicado. logo recebeu vários apelidos: “Antônio Merreu” e “Antônio Capela”, tudo com espírito esportivo e zombador.
Em 5 de janeiro de 1925, ingressou no Colégio Seráfico de Divinópolis (o Casarão – hoje Museu Histórico de Divinópolis) para fazer o Seminário Menor (3).
Aos 16 anos, recebeu uma carta de sua mãe adotiva informando que seu pai de adoção havia sofrido um derrame. Pela primeira vez, chorou amargamente. Seu segundo pai veio a falecer em 13 de julho de 1929.
Para terminar seus estudos, seguiu para a Holanda no dia 17 de fevereiro de 1931, onde ingressou na Ordem Franciscana. Fez o sexto ano do Seminário Menor no Colégio Seráfico de Sittard e, em 7 de setembro de 1931, recebeu, no noviciado em Hoogcrutz, aquele o hábito marrom com o cíngulo branco de três nós – a “Obediência, Pobreza e Castidade”. Estudou em Venray dois anos de filosofia e no convento de Alverna, um ano de teologia, onde passou a adotar o nome religioso de “Orlando”. Em Wijchem, foi autorizado seu regresso ao Brasil.
Regressou da Holanda a bordo do navio “Highland Monarch” no final de setembro de 1935. Na primeira quinzena de novembro, os sinos de Morada Nova entoaram sons fortes e repicados, anunciando o retorno de Antônio Alvares da Silva, agora Frei Orlando — “primeiro frei Franciscano Mineiro”.
ORDENAÇÃO
Em 25 de outubro de 1936, foi ordenado Diácono no Seminário Seráfico de Santo Antônio de Divinópolis, com D. Inocêncio Engelke.
Em 24 de outubro de 1937, com 24 anos e a presença de todos os seus irmãos, foi ordenado sacerdote franciscano no Santuário de Santo Antônio de Divinópolis pelas mãos do arcebispo de Belo Horizonte, D. Antônio dos Santos Cabral. Sua cela foi ornamentada com cinco margaridas, presenteadas por suas irmãs. Cada flor representava uma delas.
No dia 1º de novembro, na Igreja São Francisco das Chagas, em Carlos Prates, Belo Horizonte, Frei Orlando celebrou a sua primeira missa, no subsolo da edificação ainda em obras.
De novo em São João
Ordenado, frei Orlando foi para São João del Rei, onde lecionou no Colégio de Santo Antônio, dirigido pela Ordem dos Franciscanos Menores, aonde passou a lecionar Português, Geografia e História Geral. Atualmente o Colégio é a Reitoria da Universidade Federal de São João Del Rey.
A cidade de São João del-Rei passou a ser para Frei Orlando como um livro aberto de arte, de história e de religiosidade. Procurou inteirar-se de tudo. Frequentemente, era visto com sua bicicleta subindo ladeiras íngremes, ruas sinuosas e becos sombrios. Ávido de melhor observar, sempre arguto, auscultando, indagando, ia fazendo amigos, envolvendo uns, cativando outros com seu bom humor.
Tornou-se um autêntico missionário da caridade, arregimentando pessoas para sua causa. Foi o criador da “Sopa dos Pobres” .
Mas havia muitas bocas e poucos eram os pratos do “Sopão”. Por isso, Frei Orlando foi ao 11º RI (11º Regimento de Infantaria, hoje 11º BIMth -11º Batalhão de Infantaria de Montanha4) para recrutar voluntários entre os soldados, o que conseguiu com sucesso. Braços para ajudar e donativos para a sopa vieram dos combatentes.
FUNDADOR E CONGREGADO MARIANO
Em dezembro de 1938, foi nomeado diretor espiritual do Colégio Santo Antônio.
Fundou e foi Diretor da Congregação Mariana, formada pelos alunos do Colégio.
À época, o sacerdote era o Diretor Espiritual de uma Congregação Mariana. Era a “cabeça” e a “alma” da Congregação – como tradicional na espiritualidade inaciana. Não era incomum que outras Ordens religiosas usassem das Congregações Marianas, fundadas no carisma de Santo Inácio de Loyola, para seus trabalhos apostólicos. Muitos franciscanos eram diretores de Congregações Marianas.
Seu amor devocional à Virgem Maria aumentou e se solidificou no convívio entre os Congregados.
Naturalmente, um dos apostolados dessa Congregação Mariana de Alunos era ajudar na Sopa dos Pobres e na Catequese local.
CORAÇÃO PATRIOTA E MISSIONÁRIO
Ao saber que o 11º RI iria partir e não se conformou em permanecer impassivelmente na cidade.
Assim, quando o então comandante do regimento, coronel Delmiro Pereira de Andrade, solicitou a indicação de um religioso para capelão militar aos Franciscanos em São João del Rei, frei Orlando viu a oportunidade de concretizar um de seus mais acalentados sonhos: o de ser missionário sem fronteiras, ir a qualquer parte do mundo para multiplicar os discípulos de Deus.
Frei Orlando apresentou-se voluntariamente e foi nomeado Capelão Militar (5).
Declarou a um amigo que era uma missão que recebeu de Nossa Senhora e sabia que não iria voltar. Era o Congregado mariano que exercia seu “prometi, fiei serei”.
DESPEDIDA DE MINAS GERAIS
Ao voltar fardado a São João del-Rei, procurou cumprimentar a todos pelas ruas da cidade, com tanta alegria, que parecia despedir-se de tudo e de todos. Na Missa de despedida na Igreja de São Francisco de Assis, subiu ao púlpito e falou da situação da Guerra ressaltando sua satisfação de servir a Deus e à Pátria:
“Hoje é o dia mais feliz de minha vida, completei o meu ideal: sou agora soldado de Deus e da Pátria.”
INCORPORAÇÃO
No dia 25 de março de 1944 o 11º Regimento de Infantaria (11º RI – Regimento Tiradentes, o famoso “Onze”) ocupou os barracões da Vila Militar do Rio de Janeiro, de onde saiu em 22 de setembro, com destino ao continente europeu.
Quando vestiu o uniforme de capelão militar no posto de tenente, sentiu a diferença. Seu garbo e sua postura impunham respeito e só era identificado como padre pelo distintivo da cruz na gola da túnica. Na manhã de 20 de julho surge no acampamento um risonho e feliz Tenente da Companhia de Comando Regimental, aquele que levaria conforto e apoio espiritual aos guerreiros da FEB, empunhando apenas duas armas: um cachimbo e uma gaita, com a qual anunciava a hora de rezar o Terço. O Congregado mariano de São João Del Rey agia por seus meios.
Além da missão de defender a Pátria, levar aos combatentes a Palavra de Deus, dava ânimo e motivação aos desesperados e também os revoltados – os que blasfemavam a Deus por não O verem agir diante o quadro de caos produzido pelo Homem.
Na investidura de suas funções junto à tropa, celebrou sua primeira Missa para o Regimento Tiradentes em 21 de julho, num altar tosco de madeira construído no acampamento do Morro do Capistrano, na Vila Militar.
Integrou-se, então, à FEB, e seguiu para a Europa. Partiu satisfeito, pois o seu sonho era ser missionário de Cristo e do Brasil. Foi expedicionário de sua Igreja e de sua Pátria. Considerou-se justo que nossos combatentes, em campo de batalha, fossem fortalecidos espiritual e moralmente pelos capelães militares. Foram assim integrados à FEB, em seus diversos escalões, trinta padres católicos e dois pastores protestantes.
NO NAVIO
Às 11 horas do dia 22 de setembro de 1944, o navio norte-americano “General Meighs” zarpou com os pracinhas6 para a Itália. Durante a viagem, ficaram sabendo das primeiras vitórias do destacamento da FEB no vale do rio Serchio e o destino da viagem marítima.
Apesar de pouca convivência com todos os integrantes do “Onze”, Frei Orlando já era perfeitamente entrosado com oficiais e praças.
Celebrava Missas e rezava o Terço no tombadilho do navio. Para o Capelão, não havia obstáculos que o impedissem de realizar suas tarefas religiosas.
Certa vez, celebrou uma missão em um dos compartimentos do navio, improvisando um altar em cima dos sacos de bagagem e utilizando sua maleta de Extrema-Unção, contendo todo o material necessário.
No dia 6 de outubro de 1944, os pracinhas atracaram no porto de Nápoles. No dia 10, embarcaram para a Ternuta de San Rossore, a oeste da cidade de Pisa, lugar com espaço suficiente para abrigar até três Divisões (doze mil homens) conforme esperado pelos Aliados.
Depois de completamente instalada a Capelania, seus capelães celebraram a primeira Missa em solo italiano aos 22 de outubro, na capelinha construída pelos brasileiros em Pisa, a qual foi acompanhada por cerca de quatro mil soldados. Estes, em coro, encerraram o culto cantando o Hino Nacional, ao som longínquo do estrondo de canhões inimigos.
Terminadas as orações, estavam rodeados de jovens italianos famintos em busca de alimento. Era a miséria da guerra. Lembrando de sua Sopa dos Pobres, Frei Orlando logo se pôs a ajudar os necessitados com mantimentos recolhidos dos pracinhas. Deu conforto e esperança, dizendo que a Guerra logo iria acabar, o que realmente ocorreu sete meses depois.
Engenhoso na Caridade, Frei Orlando não perdeu tempo e, com o auxílio de uma freira, organizou um asilo improvisado na cidade de Pisa. Não dispunha de outros recursos para mantê-lo, senão o de valer-se da caridade dos soldados. No asilo, eram lavadas as roupas dos soldados em troca de alimentos.
NO FRONT DE BATALHA
Sua presença era constantemente notada na Primeira Linha, como se lê em um trecho de carta que escreveu a seus familiares: “Desde que vim para a linha de frente, estou sempre no Posto de Saúde Avançado a fim de atender os feridos que chegam do campo de luta. De fato, vivo “zanzando” por toda parte, hoje aqui, amanhã ali, dormindo ora neste, ora naquele lugar, sempre na primeira linha. Até hoje, nada sofria. Ao contrário, estou bem disposto, alegre e sempre animando a turma.”
Estas palavras bem revelam a coragem e a alegria com que ele cumpria sua missão.
Como um bom Congregado mariano, alegria era a sua marca registrada, cunhada por ele na célebre frase: “Passei pela vida sorrindo, embora tivesse motivos para chorar!” que bem reflete sua atitude perante as dificuldades e os obstáculos com que se deparou durante a vida. Não se sabe se sua alegria natural viu espaço na Congregação Mariana ou se a alegria comum aos Congregados aumentou a sua própria. O fato é que ele era alegre e levava alegria aos outros.
SUA PASSAGEM PARA A MILÍCIA CELESTE
Os soldados brasileiros preparavam-se para outra violenta arremetida a Monte Castelo. Os combatentes anteriores mostraram aos pracinhas da FEB tanto o valor do soldado alemão quanto seu próprio valor. Todos esperavam o dia seguinte, conservando em suas mentes a lembrança dos companheiros mortos e feridos. O valoroso 11º RI já era famoso por ter participado da Batalha de Montese – a mais sangrenta batalha envolvendo forças brasileiras em território estrangeiro desde a Guerra do Paraguai.
No frenesi destes trabalhos, encontramos Frei Orlando, armado de seu Ritual e dos Santos Óleos, levando conforto e coragem aos nossos combatentes.
Na manhã de 20 de fevereiro de 1945, véspera da conquista de Monte Castelo, Frei Orlando, depois de estar com a 4ª Companhia (4ª Cia), em Falfare, dirigiu-se ao observatório de Monte Dell’Oro. O capelão visitara todas as Companhias, menos uma. Manifestou ao Comandante do Batalhão, Major Ramagem, o desejo de ir de Falfare até Bombiana, para visitar a 6ª Companhia, que fora a mais bombardeada. A todo custo queria visitá-la, queria levar o conforto de suas palavras a todo o seu rebanho, pois o dia seguinte seria o dia do ataque ao forte bastião. Optou por um caminho mais curto, porém perigoso, mas o Comandante impôs-lhe o mais longo entretanto mais seguro.
Seguiu sozinho, a pé. A meio quilômetro de Bombiana, durante o percurso, encontrou-se com o Capitão Francisco Ruas Santos, que o convidou para prosseguir no seu jipe, dirigido pelo Cabo Gilberto Torres Ruas, que, juntamente com o Sargento Partigiani (um partisan (7) atuando como guia) seguiam na mesma direção. Frei Orlando, muito folgazão, depois de relatar sua manhã e o que ainda pretendia fazer, falava de um transmissão de rádio holandesa para a parte ocupada de seu país. E deu uma das suas costumeiras gargalhadas.
O jipe seguia lentamente pelos caminhos esburacados para o Ponto Cotado 789, a 300 metros de seu destino quando, de repente, se deteve sobre uma pedra.
Todos desembarcaram e procuraram retirá-la, que travava o eixo dianteiro. O sargento italiano, no intuito de ajudar o capitão, que trabalhava com uma manivela, o fez desferindo forte pancada com a coronha de seu rifle. Isto ocasionou um disparo acidental, que atingiu mortalmente o Frei Orlando, que estava a três metros. Este soltou um grito; ao mesmo tempo, levou a mão ao peito. Dando alguns passos à frente, tirou seu terço do bolso do casaco, balbuciando a Ave-Maria. O Capitão Ruas largou tudo e correu à procura do médico do batalhão. O italiano chorava e lamentava em prantos, agarrado ao corpo do capelão. Suas últimas palavras foram o início da Ave Maria… (8)
FUNERAL COM VERDE OLIVA E CAPUZ
Às 14 horas do dia 20 de fevereiro, ao som de granadas e metralhas, o corpo de Frei Orlando, vestido com o hábito franciscano e o capuz – em atenção a seu último pedido em vida – foi velado por praças e alguns oficiais na Capela de Santo Antônio em Bombiana.
Às 19 horas, durante a Missa de Corpo Presente, seu corpo foi colocado em cima de uma padiola, no chão frio da capelinha. O Capelão Frei Orlando parecia dormir. Ninguém acreditava no que aconteceu. Todos choravam a perda inesperada do frei que sonhava um dia ser missionário na China.
“Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do capelão capitão Antônio Alvares da Silva (frei Orlando), vítima de um tiro, quando se dirigia de Docce para Bombiana, a fim de levar sua assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo.
O sacerdote, que desapareceu da face da Terra após ter servido com a sua pureza de sentimento à religião e à Pátria, deixa imensa saudade no seio da organização católica a que pertencia. (…) No 11º Regimento de Infantaria, como chefe da Capelania, conquistou a todos pelas qualidades apostolares. (…) No teatro de operações, nos dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o seu conforto espiritual ou o santo sacrifício da Missa em qualquer circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte, um bravo, um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo.” (9)
Contava com 32 anos de idade, tornando-se o único capelão brasileiro morto nas operações de guerra da Itália.
O Patrono do SAREx foi enterrado no Cemitério Brasileiro Militar de Pistóia, com sua camisa verde-oliva embaixo do hábito (10). Em dezembro de 1960, seus restos mortais foram trasladados para o Monumento aos Mortos na 2ª Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro. Em 2009, foram levados para São João del-Rei, por ocasião do encerramento da fase diocesana de seu processo de beatificação.
Foi condecorado com Medalha Sangue do Brasil (11) e a Medalha de Campanha (12) – ambas post mortem.
O Patrono do SAREx
“O insigne Antônio Alvares da Silva, Frei Orlando, que morreu pela Pátria e por Deus no campo de batalha italiano durante a 2ª Grande Guerra, nasceu para a eternidade e teve seu nome imortalizado como Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREx).”
Finda a guerra, o governo brasileiro instituiu frei Orlando como patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército criado em caráter permanente por Decreto-lei no ano de 1946.
Frei Orlando granjeou o respeito e admiração de todos os integrantes de sua Unidade por seu destemor e abnegação, além da sua luta em levar o conforto e uma palavra de encorajamento aos “pracinhas” aonde estivessem.
O Tenente Gentil Palhares, companheiro de Frei Orlando no “front” italiano, testemunha fidedigna por ter convivido pessoalmente com o grande sacerdote, no livro “Frei Orlando: o Capelão que não voltou”, relata mais de uma ocasião em que transparece claramente o espírito ecumênico do Patrono do SAREx. Possuir espírito ecumênico, aliás, é um dos requisitos básicos para aqueles padres católicos ou pastores evangélicos que pretendam ingressar no Quadro de Capelães Militares do Exército.
LEGADO
O congregado mariano Frei Orlando deixa seu exemplo de patriotismo e fidelidade à Fé Cristã, ensinando com sua própria vida que uma não exclui a outra. O soldado de Maria demonstrou que as Congregações Marianas são também escolas de civismo e amor à Nação.
Sua alegria é uma das características do verdadeiro Congregado mariano, que em tudo está feliz em servir a Mãe Celeste. Sua disponibilidade a servir a sua profissão, às pessoas necessitadas, revela também outras características dos Congregados marianos.
Frei Orlando interceda, no Céu, pelos Congregados marianos que estão nas Forças Armadas, trabalhando pela Paz.
Alexandre Martins, c. m.
Fontes:
1- Pereira, José J. Bosco. In “E Divinópolis se fez poesia”, 2008, pg. 129.
2- Azzi, Riolando in “História dos Franciscanos”
3- Seminário menor é o lugar dos primeiros anos da formação dos seminaristas católicos que irão ser ordenados sacerdotes. O sistema para preparar pessoas em Seminários começou com o Concílio de Trento, em 1563. O “Seminário Menor” tinha a função de recolher em um internato os garotos para fazerem os estudos básicos (o equivalente ao Ensino Fundamental e Ensino Médio atuais) – não era necessariamente importante que o garoto quisesse ser padre. Já o “Seminário Maior” era voltado para o estudo da Filosofia e Teologia (o atual Ensino Superior).
4- Também conhecido como “Regimento Tiradentes” ou “Onze” de São João del-Rei, cidade que o abriga desde 1897. Atualmente, é a Unidade Pioneira do Montanhismo Militar do Exército Brasileiro, única a desenvolver as técnicas e as táticas do combate em terreno montanhoso.
5- Portaria nº 6.785, de 13 de julho de 1944, de acordo com o Decreto nº 6.535, de 26 de maio de 1944
6- O termo pracinha surgiu da expressão “sentar praça”, que significa “se alistar nas Forças Armadas”. O apelido era atribuído aos soldados rasos, detentores da patente mais baixa da hierarquia militar.
7- membro de uma tropa irregular formada para se opor à ocupação e ao controle estrangeiro de uma determinada área. Os partisans operavam atrás das linhas inimigas. Tinham por objetivo atrapalhar a comunicação, roubar cargas e executar tarefas de sabotagem. O termo ficou conhecido durante a Segunda Guerra Mundial para se referir a determinados movimentos de resistência à dominação alemã, principalmente no Leste Europeu.
8- Palhares, Gentil in “De São João del-Rei ao Vale do Pó”
9- Boletim n° 52 do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945, impresso em Docce, Itália
10- conforme declarou em discurso o Deputado Hilário Torloni (PRP-SP), na tribuna da Câmara de Deputados, publicado as palavras no Diário Oficial do dia 20 de agosto de 1955.
11- a Medalha de Sangue do Brasil foi criada pelo Decreto-Lei nº 7.709, de 5 de julho de 1945 com o objetivo de a agraciar oficiais, praças, assemelhados e civis, destacados para o teatro de operações na Itália e que ali tivessem sido feridos em consequência de ação objetiva do inimigo.
12- a Medalha de Campanha é condecoração concedida aos militares brasileiros – ou de nações aliadas quando incorporados a forças brasileiras – que tenham participado de operações de guerra sem nota de desabono. Foi criada pelo Decreto-Lei nº 6.795, de 17 de agosto de 1944.