A Palavra de Deus e a vida do congregado
A Bíblia Sagrada deve estar no centro da vida cristã. Isso não é – ou pelo menos não deveria ser – uma novidade.
Seja por meio das leituras da Liturgia ou de outras leituras para meditação, é importante que estejamos diariamente em contato com a Palavra de Deus. A Constituição Dogmática Dei Verbum chama-nos atenção para o fato de que Deus se comunica com seus filhos por meio do Livros Sagrados. “É tão grande o poder e a eficácia que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo e vigor para a Igreja, e, para seus filhos, firmeza da fé, alimento da alma, pura e perene fonte da vida espiritual.” (DV, 21).
Se na vida de todo cristão a Bíblia deve ocupar lugar central, na vida de nós marianos a Palavra deve se fazer presente de forma mais eficaz ainda. Somos católicos em busca de viver o cristianismo por meio dos ensinamentos da Santíssima Virgem. Como sabemos, Maria Santíssima concebeu a Palavra. Ela esteve aberta a Deus para que Ele agisse nela, para que Ele fizesse dela um instrumento de santificação. Tudo isso porque ela deixou-se moldar por Deus, porque ela meditava as Palavras Sagradas em seu coração.
Aquele que decide seguir os passos de Maria tem a oportunidade de se santificar. Como nos ensina São Luís Maria Grignion de Montfort, foi por meio das palavras de Maria que Jesus santificou São João Batista quando este ainda habitava o ventre de sua mãe Isabel[1]. E hoje, Maria continua a nos transmitir as palavras que não são suas, mas do próprio Cristo, que é a Palavra Encarnada.
Vemos, portanto, que seguir a Maria é seguir a Cristo. Este é nosso lema! Ad Iesum per Mariam (A Jesus por Maria). Mas só seguiremos de fato os ensinamentos de Nossa Senhora quando entendermos a importância de seu papel no Plano Salvífico. Maria foi preparada desde toda a Eternidade para gerar o Salvador. Toda a Sagrada Escritura está envolvida por essa verdade.
O Antigo Testamento possui diversas passagens que apontam para Maria. Já no livro do Gênesis há a primeira alusão à Maria Santíssima. Quando Deus diz que a mulher pisará na cabeça da serpente (Cf. 3,15). Essa mulher é Maria que pisa na cabeça do demônio quando ela diz seu SIM. Além dessa, várias outras passagens fazem menção a mulheres que seriam uma antecipação da figura de Maria, como Ester e Judith, ou prenunciam a encarnação de Cristo, como no livro de Isaías (Cf. Is 14,7).
O que acontece, porém, é que geralmente decoramos algumas passagens e as parafraseamos, perdendo assim, a essência de textos tão importantes. É preciso não só ler “trechinhos” que satisfaçam uma necessidade imediata. Devemos ler os livros inteiros. Meditá-los e estudá-los, para saber seu contexto, quem o escreveu, por que escreveu, para quem escreveu. Isso nos ajuda a, além de aguçarmos nossa capacidade leitora, termos um entendimento mais amadurecido acerca de nossas leituras na Sagrada Escritura.
Espelhemo-nos na Santíssima Virgem! Ela vivia a Palavra em sua vida, era atenta e tudo conservava em seu coração (Cf. Lc 2,19). Maria fazia da Palavra alimento para a sua alma. Seguir Maria é também fazer com que nossa alma seja faminta da Palavra de Deus. É o que Jesus nos lembra quando diz que não só de pão o homem viverá, mas também de toda a Palavra que sai da boca de Deus (Cf. Lc 4,4). Essa passagem, apesar de esgarçada pelo uso, deve ser lida com muita atenção. Nela Jesus chama nossa atenção para o fato de que devemos fazer da Palavra algo essencial para nossa alma. Se pararmos de comer certamente iremos nos adoentar e consequentemente morrer. Assim também é com nossa alma. Se não a alimentamos com a Palavra, ela acaba morrendo, pois não encontra forças para lutar contra as tentações do pecado.
Concluo fazendo o apelo a todos os marianos para que se debrucem sobre a Palavra de Deus, para que façam a meditação da Palavra em seus encontros e reuniões, para que se dediquem sobretudo à leitura e estudo dos livros bíblicos que são ligados à Maria Santíssima e por conseguinte à nossa devoção especial a ela. Isso aumentará nosso amor e admiração à Santíssima Virgem, além de alimentar nossa alma e nosso entendimento para que nunca nos esqueçamos que o fim último da devoção à Nossa Senhora é o próprio Jesus Cristo, ou seja a Própria Palavra que se encarnou e quis viver em nosso meio.
Igor Gonçalves, c. m.
Congregação Mariana do Hospital Colônia de Curupaiti